
Masturbação: uma palavra que, só por sua etimologia, já é polêmica, né? Em alguns lugares você pode encontrar a seguinte definição: do Latim Manustuprationem, de Manus, mão e Stuprare, violentar. Ou seja, “violentar à mão”. E em outros: do Latim Masturbatio, que seria formado por Manus, mão, e Turbare, sacudir, chacoalhar, mexer. De qualquer forma, independente disso, sabemos o quanto esse assunto foi – e ainda é – um tabu. Principalmente quando falamos da masturbação feminina.
A masturbação, contudo, pode ser muito além de proporcionar prazer para si. Para as mulheres, que tiveram e têm sua sexualidade reprimida, se masturbar é um ato de autocuidado, prazer, conhecimento e saúde.
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O que é masturbação?
A masturbação, a grosso modo, é a estimulação manual – com auxílio, ou não, de objetos, como vibradores – dos órgãos genitais, com o objetivo de obter prazer sexual podendo chegar, ou não, ao orgasmo. É uma prática sexual que pode ser feita pela própria pessoa ou por uma terceira (sempre com consentimento, senão deixa de ser masturbação e se torna abuso).
A masturbação é comum a todos os indivíduos e em uma larga faixa etária, sys. Ela pode começar no início da puberdade, ou, até mesmo, durante a infância – claro, sem a carga erótica nesta fase. Mesmo sendo uma prática cada dia mais naturalizada pela nossa sociedade e sendo cada vez mais abordada, é um ato que já foi e ainda é socialmente condenável em algumas culturas, embora não cause nenhuma doença ou malefício à saúde.
Benefícios da masturbação feminina
Pensando em um contexto de uma sociedade machista e patriarcal, não é muito difícil pensar e concluir que as mulheres foram e ainda são muito mais julgadas e condenadas quando o assunto é sexualidade. Enquanto os homens (cisgêneros) são estimulados a segurarem seu pênis, sendo visto como um gesto másculo e viril, as mulheres precisam seguir todo um protocolo do que fazer e não fazer, sendo a masturbação altamente proibida e recriminada. Entretanto, o que não é discutido, é a quantidade de benefícios que a masturbação pode trazer para a saúde – independente de estar ligada ou não ao prazer sexual.
O ato de se tocar, se olhar, se sentir, tem a ver com autocuidado e com saúde. Através dele você consegue conhecer seu corpo, entender como ele funciona, as sensações, o que você gosta, como gosta e o que não lhe agrada também. Até porque, é de extrema importância nós sabermos o que não gostamos como forma de segurança à nossa integridade física, psíquica e emocional. Não concorda?
Masturbação feminina e empoderamento
De uns anos pra cá, com o surgimento das redes sociais, notou-se uma maior discussão sobre questões feministas e de empoderamento feminino, que valorizam a vontade e a liberdade de escolha da mulher. Da depilação (ou ausência dela) à liberdade sexual, esses assuntos tomaram conta das redes, nos fazendo repensar diversos costumes e regras sociais, e a masturbação feminina entra nisso também.
Por anos crescemos ouvindo e, consequentemente, aprendendo, que se tocar é algo errado, feio e até mesmo sujo. Porém, a realidade mostra exatamente o contrário, sys! O ato de se masturbar ,é uma prática de autoconhecimento, que preza a saúde e o carinho consigo mesma. É como se fosse tomar um banho, passar uma maquiagem, escutar uma música que você gosta, ler um livro ou seja lá qual for a atividade que te dá prazer e faz com que você se ame e se cuide. Nós, da SYS, trabalhamos para que cada vez mais mulheres vejam a masturbação feminina como autocuidado.
Masturbação é pecado?
Sys, é totalmente compreensível a dificuldade que algumas mulheres sentem ao falar sobre masturbação ou até mesmo tentarem se masturbar. Pode ocorrer um misto de culpa, dúvidas, desconfortos e curiosidades. Isso porque presenciamos uma briga interna de “certo x errado”, uma vez que crescemos ouvindo que se masturbar é “pecado”, que não era coisa de “menina direita”, que devemos sentar direito e com as pernas fechadas.
Quando chegamos à adolescência ou fase adulta, ouvimos que se masturbar é legal e faz bem, o que deixa a nossa mente confusa, afinal, é totalmente diferente do que fomos criadas. Mas saiba que não tem nada de errado em querer explorar a sua sexualidade e seu corpo, ok? Você é a dona dele, portanto, tem todo o direito de conhecê-lo!
Consequências da pornografia
A pornografia mainstream é extremamente falocentrada e apenas preocupada com o prazer masculino (tanto de quem atua quanto de quem assiste), mal tem envolvimento emocional, carícias ou qualquer outro sinal de preliminares. Em compensação, há bastante humilhação e violência.
Em relação a masturbação feminina, o que aprendemos assistindo filmes pornô é que são movimentos bruscos, rápidos, duram segundos e quase sempre rola um squirting. É claro que cada corpo é único e cada mulher sente prazer de uma maneira, porém, o ponto aqui é que, nessa indústria, temos um padrão de prazer. É como se todas nós gostássemos de se masturbar daquela forma e que sempre teremos um squirting. E é exatamente aí que está o problema.
Como se não bastasse sofrermos com a pressão estética (de cabelos, roupas, comportamentos e até genitálias), também precisamos lidar com a sociedade nos dizendo como a masturbação feminina precisa ser feita. Isso, por sua vez, faz com que a mulher que queira se masturbar reproduza o que assistiu na pornografia e, muitas vezes, acabe se frustrando e se culpando por não sentir prazer.
Por isso, propomos que você deixe de lado o que “aprendeu” sobre masturbação feminina nesses tipos de mídia e preste atenção no seu corpo e em como você se sente. Não é uma tarefa fácil, sys, mas é um exercício gratificante e importante para sua saúde física e mental. Tente pensar que a sua genitália é só mais uma parte do seu corpo e, por isso, também precisa ser cuidada. Ao contrário do que podem ter te ensinado, ela é bonita do jeito que é não precisa seguir um padrão estético. Sua genitália pode ser de diferentes tamanhos, cores, jeitos e formatos e isso é lindo!
Como se masturbar?
Por ser algo íntimo, é interessante que você escolha em um local seguro, que se sinta à vontade e possa ficar sozinha. É importante que você não se cobre, ok? Não pense que você precisa sentir “x” ou “y”, apenas esteja atenta ao que for aparecendo e explore tudo com gentileza e curiosidade. Tente pensar que esse momento é seu e pra você! É como se fosse fazer algo especial para alguém, mas no caso o “alguém” é você mesma!
Você pode abaixar ou apagar as luzes! Coloque uma música, acenda uma vela ou um incenso – vai da sua escolha. O interessante de utilizar músicas é que você pode se guiar em relação ao tempo das músicas. Por exemplo, durante toda a primeira música você apenas acaricia uma parte do corpo. Depois, quando mudar de música, você passa para outro lugar... Isso te permite fazer tudo com calma.
Faça carinho em você! Você pode começar se acariciando, sem focar na região íntima inicialmente. Você pode passar um creme ou algo que goste e ir se acariciando, se massageando… Aqui você pode pensar em regiões como seios, bumbum, coxas, pescoço, barriga ou as regiões que tiver vontade e gostar. Pense que aqui você vai começar a se insinuar e criar um clima para, só depois, se masturbar.
Toque na sua região íntima! Depois quando sentir à vontade pode começar a pensar na região íntima, mas sem ir para “os finalmentes”. Passe a mão na região da vulva (ou sua genitália), virilha e coxas. Aos pouquinhos, foque na região mais interna. Curta o momento sem pressa, sys!
Explore sua vulva! Chegando finalmente no clitóris (ou sua genitália), procure fazer com calma, descubra o que você sente ou não prazer. Você pode focar na glande do clitóris, mas também é importante lembrar que ele é muito maior que apenas aquele “pontinho” que nós vemos! Aqui é o momento em que cabe a você descobrir como gosta e deixar de lado a masturbação vista na pornografia – mas lembre-se: tudo bem se você sentir prazer fazendo movimentos como os retratados pelo pornô, ok? Use movimentos circulares, vai e vem, batidinhas ou até mesmo esfregar as mãos para que fiquem aquecidas e apenas colocar em cima da vulva para que tenha essa troca de calor. Divirta-se.
Lubrificante! O uso de lubrificante é super bem-vindo. Se estiver utilizando algum creme hidratante para massagear o corpo, é interessante você usar um lubrificante à base de água quando for começar a acariciar sua região íntima, para que não tenha irritabilidade ou sensibilidade. Quando estamos lubrificadas, as carícias fluem melhor e não corre o risco de machucar a pele ou criar lesões.
Se masturbar é algo muito único e individual. É muito legal que tenha as trocas de experiências, mas que você procure descobrir o que é prazeroso para você. É interessante prestar atenção aos sinais que seu corpo dá e nas vontades que vão aparecendo durante o processo. Não há posição ou jeito certo ou errado, portanto, se em determinado momento você sentir vontade de se masturbar de ponta cabeça – e se isso não for te machucar ou te colocar em risco –, por que não? Claro que é só um exemplo, porém o importante desse momento é você se respeitar e se sentir bem. Se masturbe, se namore e se ame!
Sobre a autora

Marcela Maretti
Psicóloga e Sexóloga
Saiba mais sobre o trabalho da Marcela em seu Instagram @psi.marcellamaretti
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